domingo, 28 de outubro de 2007

MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de
estréia
na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu
pai, o que
tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes
políticas. O
velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:

" Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu
primeiro
discurso na Casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na
sombra.
Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve
ter
conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento "assusta."

E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pode dar
ao
pupilo que se inicia numa carreira difícil. A maior parte das pessoas
encasteladas
em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da
inteligência.

Isso na Inglaterra. Imaginem aqui no Brasil. Não é demais lembrar a famosa
trova de
Ruy Barbosa:

"Há tantos burros mandando em homens de inteligência que às vezes fico
pensando que
a burrice é uma Ciência".

Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na
conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos
talentosos
displicentes que não revelam o apetite do poder. Mas é preciso considerar
que esses
medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar
suas
posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde
talentosos não
conseguem passar. Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas
estabelecidas, as
panelinhas do arrivismo,inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.

Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do Elogio da Loucura
de
Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir
de burra
se quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa
social.
Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota
automaticamente a
entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo
de
perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras
à
simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas
que os
mais dotados realizam com uma perna nas costas, enfim, na medida em que
admiram a
facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os
repudiam
para se defender. É um paradoxo angustiante. Infelizmente temos de viver
segundo
essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de
desvantagem
perante a vida.

Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues:

"Finge-te de idiota e terás o céu e a terra".

Os inteligentes que brilham, peço que Deus os proteja!

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